Os livros são importantes meios de comunicação, que aproximam os leitores de diferentes contextos, sentimentos e ideias. A literatura diz muito sobre o mundo e, como não poderia deixar de ser, também sobre a migração. Ao longo da história, distintos autores têm na questão migratória uma questão central de seus trabalhos, como é o caso do tanzaniano Abdulrarazak Gurnah, que recentemente conquistou o Prêmio Nobel de Literatura 2021.
Gurnah ainda não foi editado no Brasil, mas já temos a confirmação de que suas obras serão publicadas por aqui em 2022. Enquanto os livros do vencedor do Nobel não chegam em nossas livrarias, podemos aproveitar para descobrir outras obras que, com distintas sensibilidades, retratam os movimentos de pessoas e as vidas de migrantes e refugiados. O Estrangeiro fez uma compilação dos lançamentos de 2021 em nosso país da literatura migratória produzida em distintos cantos do mundo.
Brimos: Imigração Sírio-Libanesa no Brasil e seu caminho até a política. Diogo Bercito
Neste extenso trabalho de pesquisa documental, o jornalista Diogo Bercito aborda a história da imigração sírio-libanesa em nosso país, que forma a maior diáspora árabe no mundo. Conta como essas pessoas, que chegaram aqui principalmente como comerciantes, conquistaram espaço e influência na sociedade brasileira, construindo instituições renomadas como o Hospital Sírio-Libanês e o Clube Monte Líbano; e com muitos de seus descendentes assumindo um papel de destaque na política nacional.
Brimos: Imigração Sírio-Libanesa no Brasil e seu caminho até a política
Diogo Bercito
Editora: Fósforo
Lançamento: 22 de julho de 2021
272 páginas
O Vento Mudou de Direção: o Onze de Setembro que o mundo não viu. Simone Duarte
A jornalista Simone Duarte, através de sete entrevistas com pessoas de distintas localidades, traça um panorama de como os acontecimentos decorridos dos atentados às Torres Gêmeas mudaram radicalmente as histórias de vida de distintas pessoas do Oriente Médio e da Ásia, que tiveram que deixar suas casas em busca de proteção e uma vida melhor. Exemplo é o da professora e poeta iraquiana Faleeha, que foi jurada de morte na sua terra natal e migrou para os Estados Unidos, onde escreve sobre a condição de migrante.
O Vento Mudou de Direção: O Onze de Setembro que o mundo não viu
Simone Duarte
Editora: Fósforo
Lançamento: 01 de setembro de 2021
246 páginas
Viagem ao país do futuro. Isabel Lucas
A jornalista portuguesa Isabel Lucas viveu por quase um ano no Brasil, e no período buscou entender mais sobre esse país tão próximo culturalmente de sua terra natal. Este livro, que reúne ensaios-reportagem, busca nos diálogos com a literatura brasileira as respostas para as muitas perguntas que um estrangeiro possui sobre esse local tão diverso e complexo.
Isabel Lucas
Editora: Cepe
Lançamento: 03 de agosto de 2021
328 páginas
Franceses no Brasil: cartas e relatos, 1817 – 1828. Jacques Arago, Jean-Baptiste Douville e Victor Jacquemont
Arago, Douville e Jacquemont não viveram no Brasil por muito tempo, mas documentaram suas estadias no Rio de Janeiro, então a capital do país, entre os anos de 1817 e 1828. Os textos, que estão sobretudo no formato de cartas escritas para parentes e amigos na França, oferecem o olhar estrangeiro sobre a cidade, em um momento especial de nossa história, quando chegaram os primeiros imigrantes subsidiados pela Corte Imperial.
Franceses no Brasil: cartas e relatos, 1817 – 1828
Jacques Arago, Jean-Baptiste Douville e Victor Jacquemont
Editora: Chão Editora
Lançamento: 25 de outubro de 2021
176 páginas
Rosie Carpe. Marie NDiaye
Neste romance, a francesa de origem senegalesa escreve sobre a migração de retorno e a busca pelas raízes. A personagem Rosie Carpe sai da França com os filhos e migra para Guadalupe, no Caribe, para reencontrar seus familiares e uma certa identidade perdida. Por esse livro, lançado recentemente no Brasil, Ndiaye conquistou em 2001 o prêmio Femina. Foi ainda em 2009 a escritora em lingua francesa mais lida do mundo.
Marie NDiaye
Editora: Imã Editorial
Lançamento: 31 de agosto de 2021
362 páginas
O Kit de Sobrevivência do Descobridor Português no Mundo Anticolonial. Patrícia Lino
Com imensa ironia, talvez inspirado no histórico discurso de Frederick Douglass em 1852, este pequeno livro satiriza o pensamento colonial português baseado na ideia de superioridade racial branca e lusófona. A autora criou objetos como o “banquinho racial” e o jogo “Quem descobriu o mundo?”, que buscam desconstruir o pensamento colonial ainda muito presente na sociedade portuguesa.
O Kit de Sobrevivência do Descobridor Português no Mundo Anticolonial
Patrícia Lino
Editora: Edições Macondo
Lançamento: 27 de janeiro de 2021
208 páginas
As Pipas. Romain Gary
O francês nascido na Lituânia Romain Gary escreve neste romance sobre o amor intercultural em tempos de Segunda Guerra Mundial entre um menino francês da região da Normandia e uma jovem migrante polonesa. Ludo segue Lila e vai morar na Polônia, mas posteriormente volta à França e, quando o conflito explode, descobre que a amada desapareceu. Decide então participar da resistência francesa contra a ocupação nazista, na esperança de reencontrar seu amor.
Romain Gary
Editora: Todavia
Lançamento: 06 de abril de 2021
311 páginas
Os Carregadores de Água. Atiq Rahimi
O escritor e cineasta afegão Atiq Rahimi, em “Os Carregadores da Água”, escreve sobre a vida durante o regime dos Talibãs no início dos anos 2000 e a relação dele com a penúria, o desrespeito pela história e o exílio. Os personagens Yûsef e Tom (ou Tamim) compõem, de dentro e de fora do Afeganistão, um quadro complexo que nos faz refletir sobre temas como a migração, o amor, a liberdade e a memória.
Atiq Rahimi
Editora: Estação Liberdade
Lançamento: 01 de outubro de 2021
256 páginas
Um País para Morrer. Abdellah Taïa
Um livro sobre movimento. Na obra, o marroquino Taïa investiga como se dá o encontro entre sociedades estrangeiras, num contexto marcado pelo colonialismo que explora, também, os corpos estrangeiros. O romance, com rara sensibilidade, aborda a violência cotidiana imposta pelos donos do poder.
Abdellah Taïa
Editora: Noz
Lançamento: 01 de julho de 2021
160 páginas
Detalhe Menor. Adania Shibli
A escritora palestina Adania Shibli reflete sobre as questões de fronteira, identidade, poder e violência a partir da investigação sobre um crime cometido pelo exército israelense no deserto de Neguev em 1949, um ano após a criação do Estado de Israel. Shibli, em uma prosa potente e dura, escreve sobre a história da região, profundamente marcada pelas expropriações e pelo refúgio.
Adania Shibli
Editora: Todavia
Lançamento: 07 de julho de 2021
83 páginas
A Universidade Desconhecida. Roberto Bolaño
Uma coletânea dos poemas do grande autor chileno Roberto Bolaño. Mais conhecido no Brasil por seus romances, Bolaño também produziu muita poesia, e vários de seus poemas cruzam com a questão migratória – que também marcou a vida do chileno, exilado após o golpe militar de 1973 e que passou a vida no México e na Europa.
Roberto Bolaño
Editora: Companhia das Letras
Lançamento: 03 de agosto de 2021
917 páginas
Memória para o Esquecimento. Mahmud Darwich
Mesclando a prosa e a poesia, o grande poeta palestino Mahmud Darwich narra o dia da invasão israelense e o consequente cerco a Beirute. Mesclando testemunho, memórias, autobiografia, crítica literária, poesia e jornalismo, Darwich constrói uma memória pessoal e coletiva que discutirá, entre outras questões, o significado do exílio.
Mahmud Darwich
Editora: Tabla
Lançamento: 05 de outubro de 2021
199 páginas
Grito a Poesia. Moisés António
Neste livro de poemas, o migrante angolano Moisés António, radicado em Curitiba, faz uma coletânea de textos publicados em livros didáticos e em outros canais. Na obra, Moisés reflete sobre a condição de migrante, negro e africano em nosso país.
Moisés António
Editora: Travassos Publicações
Lançamento: 10 de outubro de 2021
220 páginas
Artigo originalmente publicado no site oestrangeiro.org(10/11/2021). Por Sidney Dupeyerat de Santana - Pesquisador do Diaspotics/UFRJ e editor do oestrangeiro.org. Clique aqui para ver o texto original!