Venezuelano é assassinado em SP por conta de dívida de R$ 100 — Foto: Reprodução/Redes sociais
O suspeito do crime foi preso. Dono do terreno onde Marcelo Caraballo morava disparou tiros contra o rapaz durante uma briga por conta do pagamento. Família foi acolhida por vizinhos e, sem renda, está vivendo de doações. Caso é mais um exemplo de xenofobia, como o do congolês Moïse Kabagambe, diz movimento
Um venezuelano de 21 anos foi assassinado em São Paulo durante briga por conta de uma dívida de aluguel no valor de R$ 100. O suspeito do crime foi identificado nesta terça-feira (8) e foi preso temporariamente.
Segundo a polícia, o crime ocorreu por volta das 20h30 da última quinta-feira (3), na Rua Rio de Janeiro, no Jardim Oratório, em Mauá, na Grande SP.
De acordo com o boletim de ocorrência, policias militares foram acionados e tomaram conhecimento que a vítima e o autor, um homem de 41 anos, estariam brigando por conta de uma dívida. A vítima, Marcelo Caraballo, seria locatário do apartamento do autor.
Durante a briga, o suspeito teria atirado contra a vítima, fugindo em seguida. O Samu foi acionado e constatou a morte no local. O caso foi registrado como homicídio qualificado no 1ºDP de Mauá, que investiga os fatos em inquérito policial.
A esposa de Marcelo afirmou à TV Globo que a dívida de R$ 100 pertencia ao seu irmão, cunhado da vítima.
Segundo o Movimento Antirracista Dandara, de Mauá, Marcelo morava com a esposa, os quatro filhos, a sogra, um irmão que tem deficiência auditiva e a avó da esposa. Todos são venezuelanos.
Marcelo Caraballo foi assassinado em SP após briga por dívida de R$ 100 — Foto: Redes sociais/Reprodução
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Eles moravam no mesmo terreno onde vive o autor dos disparos e, após o crime, deixaram o local por medo e estão sendo acolhidos temporariamente por vizinhos. A família está em um lugar ainda em construção e necessita de colchões, cobertores e cômodas.
O ativista vê semelhanças com o assassinato de Moïse Kabagambe, no Rio de Janeiro. "Os imigrantes são bastante alvos, vulneráveis a essas agressão, por falta de políticas públicas", afirmou.
Em maio de 2020, um angolano de 47 anos morreu esfaqueado em Itaquera, na Zona Leste de São Paulo. Dois outros imigrantes ficaram feridos ao tentar impedir a agressão. O suspeito, um auxiliar de mecânico brasileiro, fugiu. Segundo testemunhas, o ataque teve motivação xenofóbica e ocorreu após uma discussão sobre o pagamento do auxílio-emergencial federal para imigrantes.
'Moïse de SP'
Movimentos sociais destacam que o caso de Marcelo é mais um crime de xenofobia cometido no país, a exemplo do assassinato do congolês Moïse Kabagambe.
"No passado final de semana, enquanto nos mobilizávamos pela morte do Moïse, aconteceu outro crime de xenofobia e racismo que acabou com a vida de Marcelo, migrante venezuelano que morava em Mauá (SP). Uma e outra vez gritamos: BASTA DE XENOFOBIA, BASTA DE RACISMO! Exigimos justiça para o Marcelo e para todas as pessoas migrantes e refugiadas que perdem a vida nesse pais por causa da intolerância e a falta de respeito à diversidade!", publicou a Base Warmis, grupo de mulheres voluntárias que atua no combate à violência e discriminação.
Moïse, de 24 anos, foi espancado após ter cobrado dois dias de pagamento atrasado em um quiosque no Rio de Janeiro. O corpo dele foi achado amarrado em uma escada.
Para a polícia, entretanto, a confusão e, em seguida, o espancamento, não aconteceram por conta da suposta dívida do congolês. A motivação do crime ainda é investigada por policiais da Delegacia de Homicídios da Capital.
Atualmente, três agressores flagrados pelas imagens de uma câmera de segurança do quiosque Tropicália, na Barra, estão presos pelo crime. A polícia, a princípio, os indiciou por homicídio duplamente qualificado.
Nesta terça (8), testemunhas relataram à Polícia que Moïse foi espancado enquanto clientes compravam refrigerante. Os agressores disseram as pessoas para 'não olhar'.
Ainda de acordo com as testemunhas, os agressores afirmaram que congolês estava 'assaltando as pessoas' e queriam 'dar um corretivo' nele.
Guardas municipais foram chamados, mas não ajudaram.