Além do caso Moïse, imigrantes também pedem justiça para venezuelano morto na Grande SP

 


Assassinato de Marcelo Caraballo por uma dívida de aluguel de R$ 100 em Mauá pode também virar assunto na Assembleia Legislativa paulista

 

 
A questão do racismo e da xenofobia contra imigrantes no Brasil ganhou projeção nos últimos dias em razão do assassinato do refugiado congolês Moïse Kabagambe, no Rio de Janeiro, no mês passado. Mas além dele, um outro caso, envolvendo a morte do venezuelano Marcelo Caraballo, também tem gerado mobilização por parte da comunidade migrante.

Segundo o portal G1, a partir de informações do boletim de ocorrência, o venezuelano de 21 anos foi morto na última quinta-feira (3) após uma briga pordívida de R$ 100 de aluguel com o locatário do aparatamento onde vivia, em Mauá, na Grande São Paulo. O jovem tinha quatro filhos, morava com a esposa, a mãe e um irmão.

O autor do crime, Alberto Pimentel Oliveira, de 41 anos, foi detido na última terça-feira (8) e cumpre prisão temporária, que pode ser convertida em preventiva a partir das conclusões das investigações.

Basta à xenofobia

A morte de Marcelo Caraballo é um novo episódio de violência contra pessoas migrantes no Brasil, que teve o refugiado congolês no Rio como outra vítima recente. A ele se somam outras tantas, conforme o protesto em justiça por Moïse na capital paulista recordou.

 

“No passado final de semana, enquanto nos mobilizávamos pela morte do Moïse, aconteceu outro crime de xenofobia e racismo que acabou com a vida de Marcelo, migrante venezuelano que morava em Mauá (SP). Uma e outra vez gritamos: BASTA DE XENOFOBIA, BASTA DE RACISMO! Exigimos justiça para o Marcelo e para todas as pessoas migrantes e refugiadas que perdem a vida nesse pais por causa da intolerância e a falta de respeito à diversidade!”, publicou a Equipe de Base Warmis – Convergência das Culturas, grupo de mulheres migrantes que atua no combate à violência e à discriminação.

O apelo contra a xenofobia foi reforçado pela ONG Pelo Direito de Migrar (PDMIG), fundada e dirigida por imigrantes e refugiados.

“Exigimos justiça por Moïse, por Marcelo, por João Manuel e por todas as pessoas vítimas do racismo e da xenofobia no Brasil!”, afirmou a instituição, por meio de nota nas redes sociais.

A Cátedra Sérgio Vieira de Mello da Unicamp também manifestou pesar pelo asssassinato do venezuelano. “A morte de Marcelo Caraballo, assim como o recente assassinato do congolês Moise Kabamgabe, são inaceitáveis”.

 

Caso na Alesp

 

O Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alesp, o deputado estadual Emidio de Souza (PT), enviou ofício à Polícia Civil cobrando investigação do assassinato do jovem venezuelano e punição dos culpados. Por meio das redes sociais, o parlamentar também fez uma ponte entre as mortes de Marcelo Caraballo e de Moïse Kabagambe.

“Dias após o brutal assassinato do refugiado congolês Moïse Kabagambe, no Rio, outro jovem negro e imigrante foi morto por motivo fútil. Mais um triste episódio que evidencia a chaga da violência do nosso país contra jovens negros e migrantes empobrecidos. Esse é um Brasil do qual temos vergonha”

Emídio de Souza anunciou ainda que pretende convidar a família de Marcelo para prestar depoimento na Comissão de Direito Humanos da Alesp. “Assim teremos mais elementos na busca por justiça”, explicou.

 

Venezuelanos no Brasil

 

Segundo dados da Plataforma de Coordenação Interagencial para Refugiados e Migrantes da Venezuela (R4V) existem mais de cinco milhões de imigrantes e refugiados venezuelanos espalhados pelo mundo, sendo a maior parte deles em países da América Latina e Caribe. 

No Brasil, estão 305 mil venezuelanos, o que coloca o país como o quinto maior destino dessa população em migração — atrás de Colômbia, Peru, Equador e Chile. Cerca de 50 mil vivem como refugiados e mais de 85 mil aguardam parecer sobre o pedido de refúgio, de acordo com a plataforma.

A presença venezuelana no Brasil embasou ações como a Operação Acolhida, em vigor desde abril de 2018, e o reconhecimento do país em 2019 como local de grave e generalizada violação de direitos humanos. Essa condição, ao menos em tese, confere um trâmite mais rápido às solicitações de refúgio de venezuelanos no Brasil. Por outro lado, os nacionais do país vizinho foram alvo das maiores restrições para ingresso no território brasileiro durante a fase aguda da pandemia de Covid-19.

 
 
 
Matéria originalmente publicada no site migramundo.com/(10/02/2022). Por MigraMundo EquipeClique aqui para ver o texto original!